O fim do diálogo
Algumas palavras, acho até que a
maioria delas, têm mais de um significado. “Fim”, por exemplo, pode ter o
sentido de finalidade ou de término, para ficar em apenas dois.
E “diálogo” pode representar tanto
uma conversação qualquer como a procura por um entendimento, que é o que
interessa aqui.
Quando se diz que duas partes,
ainda que adversárias, estabelecem um diálogo, entende-se que trocarão
informações entre si com a finalidade de solucionar determinada questão, de
forma consensual ou, ao menos, consentida, sem que haja uma sobreposição
forçada da vontade de uma pela outra. O fim do diálogo é, em última análise,
evitar a violência.
E não há diálogo sem comunicação.
Simplificando ao máximo, a
comunicação ocorre quando o emissor faz chegar ao receptor uma mensagem, que
será tão melhor compreendida quanto maior for a correspondência entre os
significados atribuídos por cada uma das partes ao conteúdo da mensagem.
Isso não implica que as partes devam
concordar quanto ao significado de determinada palavra ou expressão, mas que
devam entender o que tal palavra ou expressão significa para a outra.
Se os significados não forem minimamente
compartilhados, ocorre o que os teóricos da comunicação chamam de ruído (há várias
espécies de ruído) que pode chegar ao ponto de comprometer completamente a
compreensão da mensagem.
Vamos supor, por exemplo, que
após extensas conversas, uma das partes dirige-se à outra e, tentando dizer que
atingiram seu objetivo, afirma:
- Nosso diálogo chegou ao seu fim!
A outra parte, se não estiver
atenta ao contexto da conversa ou se desconhecer os diversos significados da
palavra “fim”, pode entender justamente o contrário, acreditando que seu
interlocutor está dando o diálogo por encerrado.
Anotem-se aqui essas duas formas
de geração de ruído: o desconhecimento (ao que podemos equiparar a
desinformação) e a descontextualização.
Por outro lado, existe uma forma
muito importante de construção de significados comuns e compartilhamento de
significados divergentes, que é o debate. Pela via do debate, podem se
contrapor ideias (o que, em tese, deveria levar ao seu aprimoramento) e narrativas (o que, em tese, deveria aproximá-las do real).
O debate também se estabelece
pela via da comunicação e, portanto, também se envenena pelas vias da desinformação
e da descontextualização.
Infelizmente, como já se abordou em post anterior está em curso um triste movimento de desconstrução de significados comuns e fragmentação social, que gera um excesso de ruído entre extremos polarizados. Isso inviabiliza a comunicação, o debate e o diálogo. E o fim do diálogo conduz, em última análise, à violência.
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