Sérgio Rey e Ruy Moro

Até quem torce para outros times conhece a história do Campeonato Paulista de 1977, em que o Corinthians encerrou um jejum de 23 anos sem título.

Mas a versão contada aos não corintianos costuma ser menos épica e um tanto rabugenta.

“Título comprado. O Ruy Rey entregou a final e depois foi jogar no Corinthians”.

Foi essa a “óbvia” conclusão dos torcedores rivais quando o centroavante, que prejudicara a sua Ponte Preta com uma expulsão tola logo no início do jogo decisivo daquele campeonato, foi anunciado como jogador do Corinthians, depois de um período de seis meses sem jogar.

Não menos óbvia (e sem aspas) foi a desconfiança causada pela decisão do ex-ministro, ex-juiz e ex-herói Sérgio Moro, de abandonar a magistratura para se tornar ministro da Justiça da gestão Bolsonaro.

O próprio Moro já havia declarado, em entrevista à Revista Veja (27 de novembro de 2017) que “não seria apropriado de minha parte postular qualquer espécie de cargo político porque isso poderia, vamos dizer assim, colocar em dúvida a integridade do trabalho que eu fiz até o presente momento”.

A declaração não passou despercebida pelo Ministro Gilmar Mendes, que, ao votar pela suspeição do então juiz no HC nº 164.493/DF (paciente Luís Inácio Lula da Silva) a incluiu no capítulo dedicado ao episódio, um dos sete fatos principais nos quais assentou sua decisão.

Recorde-se que no mesmo dia em que Moro anunciou sua ida ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, a defesa do ex-presidente Lula anunciou que impetraria Habeas Corpus arguindo a suspeição do ex-juiz, o que ocorreu quatro dias depois. Nascia ali o HC nº 164.493/DF, que tinha como principal argumento o fato de Sérgio Moro ter se tornado ministro de Jair Bolsonaro.

Não há provas de que Ruy Rey tenha se vendido e não dá para cravar que com ele em campo o resultado fosse diferente.

Do mesmo modo, não há certeza de que Lula vencesse a eleição se pudesse ter sido candidato em 2018, e o fato de Moro ter aceito o convite de Bolsonaro não é - por si só – prova cabal de sua suspeição. Mas revela, sem sombra de dúvida, seu péssimo senso de oportunidade.

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