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Mostrando postagens de setembro, 2022

Memória de 1989

Taí um ano animado. Em 1989, os brasileiros foram às urnas votar para Presidente da República, depois de quase trinta anos. Era tanta empolgação que nem as crianças ficavam de fora. Na escola onde eu estudava, filhos de tucanos e petistas desafiavam a maioria malufista em calorosos debates. E olha que estávamos no primário! E a guerra dos plásticos? Nas janelas das casas e, principalmente, dos automóveis, os plásticos (leia-se: adesivos) davam o tom e serviam como termômetro. Havia os fiéis (deixaram os adesivos colados por anos, mesmo após as Eleições), os volúveis (trocavam o plástico toda semana), os confusos (enchiam o vidro com propagandas diferentes) e os piadistas. Esses últimos cortavam e misturavam os adesivos para criticar a concorrência. “Collorido”, “Bollor”, “Mula”, “Cocovas”, “Brizmola” e “Maluco” são algumas das montagens de que me lembro. Meus pais assinavam a revista “IstoÉ”, que a cada pesquisa trazia na capa caricaturas dos candidatos, como se estivessem ...

Ecos de uma eleição passada: o recado de Claudio Abramo

Em 1985, os brasileiros voltaram a eleger, depois de 20 anos, os prefeitos das capitais, naquela que foi a mais democrática eleição da nossa História até então. A disputa na cidade de São Paulo ganhou dimensão nacional e se afunilou entre dois nomes: o ex-presidente Jânio Quadros e o então senador Fernando Henrique Cardoso. Jânio largou na frente, enquanto o PMDB não definia seu candidato - o partido tentou num primeiro momento alguma solução jurídica que permitisse a reeleição de Mário Covas. Definido o nome de Fernando Henrique, a corrida eleitoral engrenou e ele passou adiante. Ao longo da campanha, o senador do PMDB foi angariando o apoio do chamado arco progressista – PSB, PDT, PCB e PC do B - mas não conseguiu convencer o PT. Nada obstante o apelo a uma postura “responsável” e que não ajudasse a eleger Jânio na reta final, o partido insistiu até o fim na candidatura Suplicy, terceiro colocado. Jânio, por sua vez, não dividia os votos da direita com ninguém, e a disputa ...

Ecos de uma eleição passada: o recado do Todo Poderoso

Em 1985, os brasileiros voltaram a eleger, depois de 20 anos, os prefeitos das capitais, naquela que foi a mais democrática eleição da nossa História até então. A disputa na cidade de São Paulo ganhou dimensão nacional e se afunilou entre dois nomes: o ex-presidente Jânio Quadros e o então senador Fernando Henrique Cardoso. FHC – que na época ainda não tinha virado sigla – buscava seu primeiro cargo no Executivo, apoiado pelo prefeito Covas, pelo governador Montoro e pelo presidente Sarney (embora esse último não fosse dos melhores cabos eleitorais). A poucas semanas da eleição, a vitória de Fernando Henrique era dada como certa, mas na reta final Jânio pegou pesado, virou o jogo, e levou a Prefeitura. Depois da derrota, FHC voltou ao Senado e de lá chegou à Presidência, onde conseguiu renovar seu mandato nas urnas, após a aprovação da emenda da reeleição - para a qual foi acusado  de contribuir, de maneira nada republicana, o mesmo Olavo Setúbal que outrora financiara Jâni...

Ecos de uma eleição passada: o recado de Jânio Quadros

Em 1985, os brasileiros voltaram a eleger, depois de 20 anos, os prefeitos das capitais, naquela que foi a mais democrática eleição da nossa História até então. A disputa na cidade de São Paulo ganhou dimensão nacional e se afunilou entre dois nomes: Jânio Quadros e Fernando Henrique Cardoso. Jânio já havia sido prefeito e governador, além de presidente da República. Filiado ao PTB, era o candidato da direita, com o apoio explícito do PFL, bancado por Olavo Setúbal, e a simpatia silenciosa do PDS de Maluf e Delfim Netto. Não dá para dizer que Jânio tenha sido o precursor das fake news  nem do populismo moralista, mas ninguém antes de si havia reunido tudo isso num pacote tão eficiente, simbolizado pela vassoura com a qual iria “varrer a bandalheira”. Na Presidência, teve seu mandato abreviado pela renúncia, que desencadeou a sucessão de fatos precedentes à ditadura militar, encerrando o ciclo iniciado pelo Marechal Dutra e que ficou conhecido como a “República Populista”. ...