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Mostrando postagens de janeiro, 2021

A entrevista

O candidato aproximou-se da grande mesa e lhe indicaram onde deveria sentar; bem acomodado, se pôs à disposição dos membros do Conselho de Administração. Um jovem executivo ajeitou os óculos e encarregou-se das perguntas: - Vejo que o Sr. trabalha em vendas por quase 30 anos. Quantos contratos o Sr. fechou nesse período? - Deixa eu fazer as contas aqui... foram dois, sim fechei dois contratos. - Só dois? - Sabe como é... eu era discriminado por minhas posições... além disso, mais importante que fechar negócio é atrapalhar as vendas dos concorrentes hehehe. - E como o Sr. costuma formar a sua equipe de vendas? Qual a divisão de tarefas, o que cada um faz? - Eu só escolho gente qualificada: amigos, parentes, parentes dos amigos e amigos dos parentes. E o que eles fazem já não é problema meu, pergunta lá para o meu assistente. - O Sr. sabe que, caso venha a ser escolhido CEO, deverá formar uma nova Diretoria. Já tem em mente o perfil ideal dos diretores? - Tem que ser gent...

Corcel II, lanterna lisa

Era um Corcel II, Branco Nevasca. Chovia. Não, não chovia. Talvez garoasse. Mas era tarde da noite, isso é certo. Na escuridão da Rodovia Luiz de Queiroz, ainda não duplicada, paramos. O Policial Rodoviário veio até a janela e conversou com meu pai. Entre luzes fracas e vozes distantes, não dava para entender muita coisa, mas parece que as rodas do caminhão não estavam no chão.   Pulei para o banco da frente, junto à minha mãe e minha irmã, bebê de colo. Com aquele homem magro, de barba rala, deitado no banco de trás, o Corcel retomou o seu rodar macio. Entramos em Santa Bárbara D´Oeste e, pergunta daqui, pergunta dali, chegamos à Santa Casa, onde deixamos o desconhecido. Não me lembro se voltei ao banco de trás, mas não me esqueço que os cacos de vidro reluziam quando passávamos embaixo de algum poste de iluminação.     Essa é só uma das histórias do primeiro Ford da família, um Corcel II, modelo “L”. De interior despojado, tinha no teto um revestimento branc...

Fatos e opiniões

Você prefere ganhar jogando feio ou perder jogando bonito? Os amantes do futebol adoram gastar saliva debatendo esse assunto, que geralmente começa ou termina com uma comparação entre as seleções brasileiras de 1982 e de 1994. Enquanto os mais românticos exaltam a elegância do time de Sócrates, Zico e Falcão, eliminado pela Itália na segunda fase da Copa da Espanha, com uma campanha de 15 gols em cinco jogos, os mais pragmáticos elogiam a eficiência da equipe de Dunga, Bebeto e Romário, campeã nos pênaltis após um 0 x 0 com a mesma Itália, nos Estados Unidos, com uma campanha de 11 gols em oito jogos. São duas formas diferentes de entrar para a História, e escolher entre uma delas é questão de opinião. Jogar bonito – que não é exatamente sinônimo de jogar bem – até pode ter a ver com alguns dados objetivos, como posse de bola no ataque, finalizações, gols marcados. Mas, no fim das contas, trata-se de uma avaliação essencialmente subjetiva e, portanto, é também uma questão de op...