Memória de 1984

A memória mais remota que tenho de algum evento de comoção nacional é de 1984.

Após vestir minha irmã com um macacãozinho amarelo, mamãe disse que ela estava usando “a cor das diretas”. Meus pais falavam muito nessas tais diretas.

Acho até que eles devem ter me explicado, mas era preciso ter mais do que quatro anos para entender a real dimensão do movimento “Diretas Já”, que apesar dos grandes comícios e do apoio que recebeu de inúmeras personalidades da época, não foi suficiente para que o Congresso aprovasse a emenda Dante de Oliveira, que possibilitaria a escolha do Presidente da República pelo voto direto do povo.

O presidente eu sabia quem era, afinal, no prédio em que meus pais trabalhavam havia fotografias dele penduradas por todo lado.

- Quem é esse, pai?

- O Figueiredo.

Não era comum meus pais me levarem ao trabalho, mas, quando isso acontecia, à medida em que íamos entrando e saindo das salas, lá estava o Figueiredo, sorrindo com sua faixa verde-e-amarela. Mas quem era o Figueiredo mesmo?

- O presidente.

Ah sim, o presidente, o chefe de todos.

Enquanto isso, aquele que deveria ser o chefe do chefe, ou seja, o povo, continuava esperando a sua vez...

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