Patriotrapalhadas
É bem verdade que a data cívica brasileira andava meio esquecida. Pudera! A Independência foi o primeiro dos muitos “acordões” que vêm ditando a nossa História. Mudar, pero no mucho.
Este ano, porém, pode ser
diferente. Seguidores do presidente Jair Bolsonaro organizam um movimento batizado
de Nova Independência, que busca libertar o Brasil dessa “chatice” que chamamos
de Estado Democrático de Direito. Querem fazer o que lhes dá na telha sem arcar
com as consequências. Fogo de palha? Tomara!
O mais espantoso é que o grupo
em questão se autoproclama “patriota”, aparentemente sem ter a mais vaga noção
do que isso significa. Pois ser patriota, mais que do prestar reverência aos
símbolos nacionais, é efetivamente amar e servir à Pátria. E o mais amplo
conceito de Pátria, assim, com o pê maiúsculo, remete à ideia de Estado
Nacional, cujos elementos formadores são o povo, o território e a soberania.
Não se concebe, portanto, um
patriota que não ame o povo de seu País, que não aceite sua diversidade e não se
disponha a algum sacrifício em nome da saúde e bem-estar da população. Que seja
indiferente à dor dos que sofrem e falte às próprias responsabilidades: para
mim a “Pátria Livre”, para você, “morrer pelo Brasil”.
Tampouco se imagina o patriota
disposto a moer o território de sua Nação. Trocar riquezas incalculáveis por lavouras
temporárias e pastagens degradadas. Terras férteis, por desertos, praias
ensolaradas, pela sombra dos arranha-céus. Comunidades tradicionais por cidades
em que se dorme ao relento, sob a marquise de prédios desocupados.
Trata-se do verdadeiro
patriotismo às avessas, que chega ao ponto de renunciar à própria soberania.
Pois o mínimo que se espera de
um Estado soberano é que seja capaz de resolver, ou ao menos enfrentar, os
próprios problemas.
Que não são novos, diga-se,
mas havia o reconhecimento internacional – e isso tem tudo a ver com soberania –
de que eram tratados com alguma seriedade.
Hoje somos motivo de chacota.
Outrora incensado, o Ministro
da Economia atualmente faz inveja aos mais talentosos comediantes. Na Educação,
estamos no terceiro pateta.
Queimadas descontroladas e o
descaso com a pandemia explicitam a falta de cuidado com a nossa casa e com a nossa
gente.
Desfiles e exercícios
ridículos mostram um exército digno d´Os Trapalhões, que, quando chamado à
missão de cuidar da Saúde, pelas mãos do ministro General e outros oficiais
alocados aqui e ali, escancarou as portas do Ministério para picaretas e
charlatões. Tentando se explicar no Senado, perante a CPI, mal conseguem
grunhir duas frases sem cometer erros de português.
Com as honrosas exceções de
praxe, as Forças Armadas não parecem aptas a garantir nossa soberania, e os “patriotas”
defensores da tal intervenção militar revelam-se equivocados na interpretação
da Constituição e da realidade.
Nessa toada, em breve
estaremos clamando, isso sim, por uma intervenção estrangeira, para que nosso
País, incapacitado pela ação dos loucos de todo gênero que assumiram o poder,
seja posto sob tutela.
Se você, amigo leitor, amiga
leitora, simpatiza com essa estranha trupe de patriotas, lhe convido a parar e
refletir, se antes de declarar um afetado amor à Pátria, não seria mais
proveitoso exercitar um pouco mais de amor próprio.
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