A galinha dos ovos de ouro

Após anos de privações, um casal de camponeses recebeu mágico presente: uma galinha que punha ovos de ouro.

Tudo o que eles precisavam fazer era cuidar da bichinha, que a cada semana lhes recompensava com um sólido do nobre metal.

Mas o tempo foi passando, a família foi aumentando, e o ouro da galinha já não era suficiente para atender aos desejos de todos.

Um grupo de familiares defendeu manter a galinha fechada, para que ela não gastasse energia pastando pelo terreiro.  Sob o protesto de alguns, assim foi feito.

- Olha lá, a galinha está viva e agora bota dois ovos por semana!

Sem ouvir os alertas de que isso poderia fazer mal à fantástica ave, passaram a deixar a luz acesa, impedir o seu sono. Injetaram-lhe hormônios. Os ovos vinham, mas nunca eram bastante. A galinha já não andava e não cacarejava. Perdia penas, mas ainda botava os ovos.

Um dos herdeiros teve a ideia de antecipar os recebíveis da galinha.

- Eu topo, mas quero a galinha como garantia - disse o banqueiro, que mandou um avaliador à propriedade da família.

O avaliador adiantou o seu laudo, desaconselhando o negócio:

- Essa galinha está nas últimas, olha só, é um milagre que ainda respire.

Depois de um breve silêncio, alguém arriscou:

- Vamos devolvê-la ao terreiro, deixar a natureza agir, quem sabe...

Foi interrompido:

- Deve ter algum ovo ainda na cloaca.

Abriram a galinha. Depenaram-na em instantes. Fizeram sarapatel.

Surpresos com a pequenez da porção, os adultos se irritaram. Entre socos e acusações, brigaram. Os mais fracos, sem ao menos provar da comida, se retiraram.

Alheias a tudo isso, riam e brincavam as crianças, desprovidas da ideia de que a carne e o sangue do seu futuro foram servidos, devorados, e agora jaziam na pança de glutões.

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