Memória de 1989
Taí um ano animado.
Em 1989, os brasileiros foram às
urnas votar para Presidente da República, depois de quase trinta anos.
Era tanta empolgação que nem
as crianças ficavam de fora. Na escola onde eu estudava, filhos de tucanos e
petistas desafiavam a maioria malufista em calorosos debates. E olha que
estávamos no primário!
E a guerra dos plásticos?
Nas janelas das casas e, principalmente,
dos automóveis, os plásticos (leia-se: adesivos) davam o tom e serviam como
termômetro. Havia os fiéis (deixaram os adesivos colados por anos, mesmo após
as Eleições), os volúveis (trocavam o plástico toda semana), os confusos
(enchiam o vidro com propagandas diferentes) e os piadistas.
Esses últimos cortavam e misturavam
os adesivos para criticar a concorrência. “Collorido”, “Bollor”, “Mula”,
“Cocovas”, “Brizmola” e “Maluco” são algumas das montagens de que me lembro.
Meus pais assinavam a revista
“IstoÉ”, que a cada pesquisa trazia na capa caricaturas dos candidatos, como se
estivessem disputando uma grande corrida. Nessa maratona, de vez em quando
algum candidato lá de baixo dava um pique, depois voltava a cair, depois um
outro despontava, desapontava, e assim a coisa ia.
Quando chegava a revista, eu
era o primeiro a ler, e não perdia o horário eleitoral na televisão.
Poderia lembrar aqui de vários
momentos dos candidatos, mas eram tantos, iria acabar com o texto. A certa
altura, até o Silvio Santos entrou na disputa, apareceu de cara em segundo
lugar nas pesquisas. Mas acharam um problema qualquer no seu partido nanico, e
do jeito que chegou, foi embora.
Veio o segundo turno e os
ânimos se acirraram.
Eu era tucano de carteirinha (sim,
eu tinha uma carteirinha do “Clube do Tucaninho”) mas não fiquei em cima do
muro. Até onde foi possível para um garoto de nove anos, “lulei”.
Não sei se foi por influência
dos mais velhos, ou só para contrariar os malufistas lá da escola, mas o fato é
que eu não me furtava desmentir ou pelo menos duvidar das “fake news”, que na
época a gente chamava de mentira mesmo.
“O Lula já foi preso” e “se o
Lula ganhar, vamos ter que dividir nossas casas com os pobres” eram algumas das frases que se ouvia; passava-se um temor de desordem e confisco de bens.
Tivesse alguém apostado que
era o outro quem viria a bloquear a poupança do brasileiro e ser afastado do cargo por corrupção, teria quebrado a
banca.
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