Cem anos sem Rui: frases

Na grande viagem, na viagem de trânsito deste a outro mundo, não há "possa, ou não possa", não há querer, ou não querer. A vida não tem mais que duas portas: uma de entrar, pelo nascimento; outra de sair, pela morte. Ninguém, cabendo-lhe a vez, se poderá furtar à entrada. Ninguém, desde que entrou, em lhe chegando o turno, se conseguirá evadir à saída. E, de um ao outro extremo, vai o caminho, longo, ou breve, ninguém o sabe, entre cujos termos fatais se debate o homem, pesaroso de que entrasse, receioso da hora em que saia, cativo de um e outro mistério, que lhe confinam a passagem terrestre (Rui Barbosa, Oração aos Moços, 1921).


Há cem anos, morria Rui Barbosa.

Toda homenagem será pouca para uma figura de tamanho peso histórico e, nestes tempos digitais, é esperado que ressurjam e se proliferem nas redes sociais suas eloquentes frases, geralmente acompanhadas de uma foto solene em que se destacam os longos bigodes brancos.

Jornalista, diplomata e advogado brilhante (político, nem tanto) o jurista baiano dominou como poucos o vernáculo e a oratória, e de seus artigos, petições e discursos brotam verdadeiras pérolas, mesmo quando de mera retórica.

O curioso é que as frases de Rui são pau para toda obra, e servem às mais variadas correntes políticas e para as mais diversas situações. Por isso, não raro, são usadas completamente fora de contexto, o que deve fazê-lo revirar na cripta do Fórum de Salvador.

Assim, nos próximos textos da série, cujos links eu vou colando aqui embaixo, tentarei jogar alguma luz em frases “lacradoras” de Rui Barbosa, para que se entenda melhor o seu contexto, significado e conexões com o presente. Sei que corro o risco de cometer os mesmos pecados, mas é preciso resistir.

 

"Se a ditadura é um mal, a ditadura de uma assembleia é um mal ainda mais grave."

 

"A feição característica de todo povo livre é o direito de tributar a si mesmo."


"O remédio da mentira está na verdade."


"Em quatro palavras se poderá encartar uma calúnia. Mas pode ser que a demonstração da falsidade não caiba toda num discurso."


"A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam."


"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto."


"Justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta."


"Se o interesse da nação é a soma de todos os interesses individuais, não pode haver justiça na exclusão de um só indivíduo, desde que ele se ache no gozo pleno de suas faculdades."


"A reivindicação do poder importa a reivindicação da responsabilidade."


"Cada suspensão arbitrária da ordem constitucional prepara surpresas ainda mais temerosas contra a existência definitiva das instituições."


"A presunção de liberdade é a expressão de uma necessidade orgânica das relações do homem com o homem."


"O que caracteriza a tirania, é a negação do direito, como direito, na sua legalidade."


"Um crime não se repara com outros."


"Os povos hão de ser governados pela força, ou pelo direito."


Fim


Fontes:

Miguel Matos, “Migalhas de Rui Barbosa” (Migalhas, 2010)

Fundação Casa de Rui Barbosa (Obras Completas)











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